Balanço do WWDC2007

De regresso a Portugal, depois de mais uma estadia em Barcelona. Estarei de volta em breve para mais uns tempos por aqui.

Queria aproveitar este tempo para escrever algo mais ponderado sobre o que se passou na WWDC2007, e fazer o meu próprio balanço de tudo o que foi apresentado, em particular sobre a Keynote do Steve Jobs. Vou tentar fazer esta minha análise em três momentos diferentes: antes, durante e depois da WWDC.

Tem sido apanágio nos últimos tempos, a Apple gerar muitas expectativas à sua volta. É normal, e é igualmente a forma que o próprio Steve Jobs gosta. Antes da WWDC2007, era possível ler em muitos sítios uma série de possíveis anúncios que iriam ser feitos na WWDC2007. Falava-se que o novo Leopard seria apresentado, o que acabou por acontecer, e havia uma enorme expectativa sobre quais seriam as novas funcionalidades que esta nova versão do Mac OS X teria. Algumas das funcionalidades já eram sobejamente conhecidas há imenso tempo, pois estavam escarrapachadas no site da própria Apple.

Outro dos aspectos que havia sido largamente debatido antes do WWDC, era a possibilidade de reformulação do serviço .Mac, uma vez que este deixa muito a desejar aos actuais utilizadores do serviço. Especulou-se que a Apple poderia fazer uma parceria com a Google para juntar aos serviços .Mac os próprios serviços da Google – uma vez que já existia uma parceria para o iPhone relativamente ao Google Maps.

Na semana anterior à WWDC, eis que aparece outra “bomba” lançada pela Sun. O Leopard iria abandonar o sistema de ficheiros HFS+, para passar a usar o ZFS. Maior facilidade de expansão do espaço de armazenamento, que poderia crescer quase indefinidamente (para além de outras características, claro). Parace que a Sun falou cedo demais...

Um outro assunto que fez correr muitos bits foi a possibilidade ou não da abertura do iPhone ao desenvolvimento de aplicações por parte de terceiros, através de um SDK.

Durante a WWDC, em particular na abertura, durante o Keynote do Steve Jobs (diga-se que o único sitio onde é normal apresentar as “verdadeiras” novidades da empresa), o nível das expectativas era tão elevado, que o que quer que fosse que fosse apresentado pelo CEO da Apple, não surpreenderia muito os espectadores ávidos de novidades. A título de nota pessoal, confesso que me choca um pouco o ambiente de histeria que se costuma gerar nestes eventos, quer sejam da Apple ou da Microsoft, e o tipo de idolatria que se faz dos seus CEOs Steve Jobs e da dupla Bill Gates e Steve Jobs. É possível ouvir nestas salas verdadeiros gritinhos histéricos, sempre que aparecem os “deuses”, ou sempre que os “deuses” dão uma uma novidade mais saliente. Mas voltemos ao Keynote, em si.

Pois como se esperava o Steve Jobs lá foi lançando as novidades que os assistentes tanto ansiavam. Começou por apresentar que um dos pontos fracos do Mac, era a falta de jogos disponíveis – o que eu não concordo que seja um ponto fraco, porque cada mais se usam consolas (um mercado em verdadeira expansão) para jogar e não PCs. Disse que a Apple iria colmatar essa situação e que a EA iria lançar uma série de títulos para o Mac OS X. Disse igualmente que a iD Software iria seguir no mesmo caminho, e foram anunciados alguns dos títulos que seriam lançados para o Mac, e uma plataforma inovadora para desenvolvimento de jogos para o Mac. Mas a verdade é que nem eu, nem os milhares de assistentes viram jogos a correr num Mac.

Seguidamente, apresentou o Mac OS X 10.5 (Leopard), e de um conjunto de 300 novas funcionalidades, havia seleccionado 10 das funcionalidades mais relevantes. Aqui ficam algumas dessas novidades/funcionalidades que foram apresentadas:

  • Desktop: neste aspecto foram destacados alguns retoques visuais ao desktop, como por exemplo o facto de passar a existir um Menubar transparente, e de a Dock ter um aspecto mais tradicional com uns efeitos reflexivos mais avançados. Por outro lado, o Spaces, uma funcionalidade que permite que o utilizador possa definir e utilizar diversos desktops em simultâneo, algo a que quem já usou Linux (através do Gnome ou de KDE), está habituado a ver à muito tempo. E outra funcionalidade no desktop, o Stacks, que permite que se agrupamentos de items na Dock, que se abrem ou fecham com um clique do rato, permitindo uma gestão mais eficiente do desktop. Todas estas transformações funcionais e visuais, vieram ainda tornar o Mac OS X mais user-friendly, sexy e fácil de usar.

  • Finder: o Finder de facto já precisava de uma lufada de ar fresco. Confesso que no meu caso, desde que descobri o Path Finder, recorro muito pouco ao Finder original. Este novo Finder, por aquilo que foi demonstrado em palco pelo Steve Jobs, é igualmente mais user friendly, e tem uma funcionalidade que herdou do iTunes – o CoverFlow. Para além do mais, este novo Finder permite uma gestão mais facilitada dos ficheiros que residem em máquinas que estejam ligadas em rede.

  • iChat: os desenvolvimentos realizados aqui foram muito significativos. A Apple acrescentou uma série de novas funcionalidades, algumas delas muito divertidas, como ficou perfeitamente demonstrado no keynote, com um dos momentos mais hilariantes do mesmo. A altura em que um dos intervenientes na demonstração do iChat, usou uma das funcionalidades que consite na substituição da imagem da pessoa que está no chat, por outra. Acontece que a substituiram pela do Steve Ballmer da Microsoft, e a gargalha foi geral. Brutal momento de humor, a provar que a Apple não morre de amores pelo actual CEO da Microsoft (nem eu). Mas voltando ao iChat. Pois tem novas funcionalidades, umas que aumentam a diversão, mas outras muito sérias como por exemplo a possibilidade de mostrar apresentações ou outro tipo de documentos e partilhá-los com os restantes elementos do chat. Excelente ferramenta para fazer apresentações remotas, por exemplo. Eu pessoalmente, acho que a Apple poderia lucrar muito, se pensasse em portar o iChat para Windows e o disponibilizasse gratuitamente. Mas isto sou eu claro. Bem, o que ficou omisso neste keynote, foi se o iChat oferecesse ou não interoperabilidade com outros chat services, tais como o Google Talk, o Yahoo! Messenger ou o MSN – eu sei que existem workarounds para isto, mas não são triviais para os utilizadores menos geeks.

  • Time Machine: bem o Time Machine é uma bomba, na minha opinião. Permite activar um sistema de backup automatico do sistema, completamente transparente para o utilizador final, mas que poder ser muito útil. Outra das funcionalidades do Time Machine, consiste na recuperação selectiva de informação no sistema, a partir de qualquer altura que o Time Machine tenha sido activado. Atentem bem nesta palavra “selectiva” pois é aqui que está todo o busílis da questão. Já ouvi muito boa gente a dizer por aí: ah e tal, mas isso é como o System Restore do Windows XP, e já existe à muito tempo, foram copiar isso. Isto não é verdade. O System Restore do Windows XP, o que faz é restaurar o nosso sistema para uma determinada data anterior, mas (e aqui é que vem a parte importante da questão), não toca nos ficheiros de dados do utilizador. O Time Machine está anos-luz à frente do System Restore, e permite que eu seleccione individualmente qual o documento que quero recuperar através de uma procura feita no tempo. Ora tomem lá e embrulhem... mai nada.

  • Mail: no Apple Mail, segundo podemos ver, foram introduzidas algumas alterações, que o vão tornar mais user friendy. Foi por exemplo introduzida a possibilidade de se usarem estacionários já pré-definidos, com a possibilidade de configuração posterior pelo utilizador. O que não ficou claro ainda é se será possível definirmos os nossos próprios estacionários – isso sim dará muito jeito. Por outro lado o Mail vai contar igualmente com um leitor de RSS feeds e como gestor de Todos e de notas. Aqui de facto as novidades, para já não forão muitas.

  • Bootcamp: o Bootcamp vai passar a vir integrado no próprio OS X e não será uma ferramenta separada como era até agora. É sempre uma funcionalidade muito útil para quem precise de correr o Windows XP ou vista à velocidade nativa. A boa notícia aqui, deve-se ao facto de que o Bootcamp já virá com todos os drivers necessários para o Windows, para colocar todos aquelas coisas que tanto gostamos no nosso Mac, como por exemplo o iSight, a gestão de energia, o backlight do teclado entre tantas outras. Ou seja, já não vai ser preciso andar a navegar pela Internet à procura de drivers “manhosos” para colocar as coisas a funcionar.

Antes de terminar o keynote, o Steve Jobs teve ainda tempo para dois anuncios importantes: Safari em Windows e desenvolvimento de aplicações para iPhone.

O Safari em Windows é uma aposta clara, tal como foi o caso do iTunes, de cativar mais utilizadores PC para produtos Apple, e não só. É igualmente um convite muito forte aos developers para passarem a contar com mais uma plataforma de desenvolvimento importante. E com o iPhone aí à espreita, nada melhor. O browser foi apresentado como o melhor do Mundo e como o mais rápido, com relações de velocidade impressionantes – devo confessar-lhes que a velocidade do Safari 2 nunca me impressionou muito. Mas estes testes de velocidade valem o que valem, em determinados contextos. O que está claro é que não deixa de ser positivo haver mais uma opção em Windows.

O iPhone e o desenvolvimento de aplicações, foi outra das novidades do keynote. Foi anunciado que não haverá um SDK de desenvolvimento, mas será possível desenvolver aplicações para o iPhone que usem o paradigma da Web 2.0 e Ajax.
Agora que a WWDC2007 terminou, já muito se escreveu sobre a keynote do Steve Jobs, mas vamos a factos:

  • Já vi o Steve Jobs fazer melhores keynotes. Mas acho que não há motivos para a entitular de “worst.keynote.ever”. Isso é claramente um exagero.
  • Existe claramente um sentimento, que a keynote não trouxe nada de novo, e até desiludiu algumas pessoas que tinham as expectativas demasido elevadas. Mas sejamos francos, já era de suspeitar que a Apple não teria uma margem de manobra muito grande, em que grande parte do esforço de desenvolvimento do iPhone, que sairá para o mercado no final do mês, desviou um pouco as atenções dos engenheiros da Apple do Leopard;
  • Há muita gente desapontada com o facto de não ter sido anunciado o lançamento de uma nova versão do iWork – é de facto uma pena;
  • As acções da Apple baixaram cerca de 3% depois do keynote. Os investidores estavam à espera de algo mais;
  • Uma hora depois do Safari 3 Beta para Windows ter sido lançado no site, já haviam sido descobertas diversas vulnerabilidades. A Apple reagiu prontamente, e fez sair uma nova versão do Safari 3.0.1 para Windows;
  • Passados apenas alguns dias do lançamento do browser, a Apple já contabilizou mais de 1 milhão de downloads – isto para quem se dizia não iria ter muito sucesso, quer dizer muita coisa;
  • A Amazon.com passou a aceitar pedidos para pré-reservas do Mac OS X Leopard, a $129. O Leopard já ocupa o 1º lugar no top de vendas de software da Amazon. Microsoft, rói-te de inveja.

Acho que vamos ainda ter muitas novidades ao longo das próximas semanas sobre o Mac OS X Leopard. Agora que aquelas cópias andam todas a circular nas mãos de alguém (the goodies have hit the streets), vamos assistir a análises mais aprofundadas sobre as características e funcionalidades do Leopardo. E aí é que vamos ver qual será a reação.

Em relação ao ZFS no Leopard, parece que existe, mas ao mesmo tempo também não. Ou seja, definitivamente o HFS+ não será substituído pelo ZFS. Isso está certo. Mas o Leopard irá oferecer suporte read-only para ZFS. Ou seja houve aqui uma falha de comunicação entre a Apple e a Sun, e uma precipitação por parte da Sun ao anunciar algo que se revelou não ser verdade.

Só para terminar, este mui longo post (até parece que me pagam para isto), apenas umas palavras sobre o iPhone e sobre o seu modelo de desenvolvimento de aplicações. Por um lado, é limitado. O tipo de aplicações que a Apple vai permitir desenvolver é baseado no modelo web (HTML + Javascritp essencialmente). E por outro lado é inteligente, no sentido que permite à Apple não se preocupar em disponibilizar todo um SDK para developers, com suporte documental, e que poderia trazer à própria Apple alguns dissabores do ponto de vista de segurança do próprio iPhone.

Aguardemos portanto, os desenvolvimentos dos próximos capítulos.

PS: desculpem lá o tamanho disto.

2 Response to "Balanço do WWDC2007"

  1. Ricardo Moreira de Carvalho 18 de junho de 2007 às 17:12
    Obrigado pela análise tão cuidada.
    Só fiquei desiludido com .mac que com 1Gg se torna claramente pouco.

    Relativamente ao Safari, a estratégia passa necessariamente por permitir desenvolver aplicações para o iPhone, o que não me surpreendeu.

    Por outro lado, o facto do iPhone não trazer suporte Flash de propósito para não deixar morrer o Quicktime... enfim.

    Abraço
  2. jasmim 17 de julho de 2007 às 15:53
    Nem sei o que dizer...muito obrigado por todos os trabalhos publicados, ajudam-me imenso, que sou nova nesta aventura mac.

    Cumprimentos,
    Alexandra